Em conflito há séculos, o Oriente Médio tem, mais uma vez, atraído os olhares de todo o planeta devido à recente escalada de violência entre os países da região. E, apesar do longo histórico de ataques mútuos, o que está acontecendo neste momento em países como Israel, Palestina, Líbano e Irã não tem precedentes e pode apresentar consequências devastadoras, inclusive para o Brasil.
Desde outubro de 2023, quando o Hamas lançou um ataque coordenado contra o território israelense, a violência na região chama a atenção por sua intensidade e duração. Para o coordenador do curso de Comércio Exterior e do Observatório Global da Universidade Positivo (UP), João Alfredo Lopes Nyegray, essa escalada de horror ainda não havia sido vista. “Logo depois dos ataques do Hamas, vimos uma reação de Israel mais intensa do que em conflitos anteriores, incluindo não apenas bombardeios extensivos na faixa de Gaza, mas também a mobilização de reservistas em larga escala, aumentando aí o temor de uma guerra mais ampla”, destaca. Além disso, lembra, a disseminação ostensiva de informação e desinformação por meio das redes sociais tem não apenas influenciado a opinião pública global como permitido que todos testemunhem em tempo real crianças, mulheres e idosos sendo massacrados. “E aí a gente percebe uma crise humanitária imensa, tanto em número de vítimas quanto em número de pessoas deslocadas”, complementa.
Quais os riscos para o resto do mundo?
Além do conflito histórico entre Israel e a Palestina, recentemente começaram a se envolver na disputa outras nações, como Líbano e Irã. Enquanto as tensões aumentam, o mundo assiste perplexo a uma ameaça real à segurança internacional. Na avaliação do especialista, esse cenário cria um ambiente propício ao surgimento de conflito em outras regiões do globo. Um segundo ponto de atenção é o impacto desse cenário nos mercados de energia, visto que o Oriente Médio é crucial para o fornecimento global de petróleo e gás. Também convém mencionar como possível impacto o fato de que a intensificação dos combates pode levar a um deslocamento massivo de pessoas, aumentando a crise humanitária já existente. Por fim, há o envolvimento de potências globais, como Estados Unidos e Rússia. “Toda essa combinação de fatores pode levar, é claro, ao aumento do terrorismo internacional na medida em que grupos extremistas podem aproveitar dessa instabilidade para expandir suas operações, seja por alianças, seja inspirando ataques em outras partes do mundo.”
Em uma região já tão fragilizada por guerras diversas, como é o Oriente Médio, conflitos internos em países como Líbano e Síria podem facilmente se espalhar para nações vizinhas, desestabilizando governos e regimes políticos. Esse movimento poderia ter consequências graves para outras partes do planeta. “A gente tem países como Estados Unidos, Rússia, China e outras potências europeias alinhadas a alguns dos países do Oriente Médio. Por exemplo, a Rússia é muito próxima do Irã e os Estados Unidos são muito próximos de Israel. Isso traz um risco maior de confronto direto entre essas potências”, diz Nyegray. Há, ainda, um risco de deslocamento massivo de populações devido ao agravamento de condições humanitárias.
Qual o papel do Brasil?
Mesmo que aconteçam em outros continentes, batalhas entre países costumam afetar todo o mundo. No jogo diplomático, inclusive o Brasil pode ter um papel decisivo, como explica Nyegray. “O Brasil pode pressionar pelo cumprimento de acordos internacionais, como as convenções de Genebra para a proteção de civis em áreas de conflito, pode apoiar investigações imparciais de direitos humanos e do Direito Internacional Humanitário em tribunais internacionais, pode propor e sediar conferências ou encontros que reúnam representantes dos países envolvidos e, é claro, fornecer uma assistência aos refugiados, aos deslocados e a todos aqueles que estejam precisando de assistência humanitária imediata nesse momento tão nefasto.”
No entanto, uma eventual intervenção brasileira não necessariamente teria efeitos práticos para solucionar o problema. “O Brasil já teve uma diplomacia muito mais importante do que tem hoje, e essa eventual perda de importância diplomática do Brasil nas grandes rodadas de discussão internacional se deve ao fato de que o Brasil acaba não sendo taxativo em relação a situações bastante problemáticas”, detalha.
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