Covid-19: aumento no número de casos leva organizações a rever planos de retomada presencial



Uma sede totalmente reformada, planejada para receber com ainda mais segurança sanitária os colaboradores que voltariam a trabalhar nos regimes presencial ou híbrido, preparada para as melhores práticas de distanciamento social no pós-pandemia. Era assim que a Tecnobank, empresa de tecnologia para registro de contratos, esperava entrar em 2022. Ao longo dos últimos dois anos, a organização deixou tudo pronto para retomar algumas rotinas presenciais, adaptando o escritório para acomodar um número menor de pessoas simultaneamente, na capital paulista. Mas a chegada de uma nova onda de contaminações por covid-19, aliada a outras doenças respiratórias, como gripe e resfriado, adiou os planos.

A diretora de Gente & Gestão (RH) da Tecnobank, Michaela Vicare, explica que a decisão foi tomada acompanhando o cenário de aumento no número de casos não apenas de covid-19, mas também de outros vírus, como o H3N2. “Desde o início da pandemia, analisamos, em um comitê criado especialmente para isso, cada comportamento, regional, nacional e global, em relação a novas ondas de contaminação. Como somos uma empresa de tecnologia, independente de estarmos ou não no escritório, o trabalho não tem nenhum impacto”, diz. Diante do atual cenário, a empresa entendeu que, independentemente do número de mortes estar caindo, os hospitais têm estado cada vez mais lotados. Daí o adiamento da reabertura do escritório para aquelas equipes que atuam no modelo híbrido.

Esse não é o único caso de companhia que decidiu aguardar um pouco mais antes de retomar as atividades presenciais. Em Curitiba, a startup DealerSites também desistiu de levar os profissionais de volta ao escritório neste início de ano. “Decidimos manter o pessoal trabalhando remotamente, ao menos na primeira quinzena de janeiro. Mesmo quem está no sistema híbrido não foi autorizado a retornar porque estamos vendo o aumento de casos de covid e outras doenças respiratórias causado pelas festas de fim de ano”, relata a head de Recursos Humanos da DealerSites, Andreza Shibata.

Especialistas de várias partes do mundo vêm alertando para o risco envolvido em encontros neste momento da pandemia, principalmente porque as novas variantes parecem ser significativamente mais transmissíveis que as anteriores. Para o infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Positivo Marcelo Abreu Ducroquet, retornar aos escritórios agora teria, sim, um impacto no número de casos confirmados de covid-19. “Se a chegada da ômicron ao Brasil repetir o que houve em outros países, estaremos diante de um tsunami de casos, maior que qualquer outro que já tenhamos registrado até aqui”, afirma.

Ainda que a maior parte desses casos aparentemente evolua sem gravidade, o especialista explica que os sistemas de saúde acabam sofrendo algum tipo de impacto. “Mesmo com os casos mais leves, algum impacto no sistema de saúde é inevitável. Seja a nível primário, com as pessoas procurando o pronto socorro com sintomas gripais ou pedindo para fazer o teste, seja nas internações em enfermaria, porque há pacientes que têm algum problema de saúde, que não foram vacinadas, que ainda não tomaram doses de reforço, enfim, há pacientes que podem evoluir para casos graves”, detalha. Ele lembra, ainda, que alguns desses pacientes podem precisar de internação em UTI.

Teletrabalho não foi unanimidade no Brasil
Nem todos os setores da economia funcionam bem com o teletrabalho. Principalmente quando se trata da indústria, é difícil manter a produção sem que os colaboradores estejam presencialmente nas empresas. No entanto, o contingente de profissionais que poderiam trabalhar de casa ainda é significativo. Cerca de 24 milhões de trabalhadores brasileiros atuam em funções que podem ser exercidas a distância, sem a necessidade de estar na empresa. Mesmo assim, de acordo com um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), apenas 10% dos trabalhadores brasileiros trabalharam em regime de home office durante a pandemia.

Responsável por 90 colaboradores, Michaela destaca a importância de tomar decisões com base na ciência para não colocar vidas em risco desnecessário. “Essas pessoas estão, de certa forma, sob a responsabilidade das empresas em que trabalham. É papel dessas organizações entender que não existe razão para assumir esse risco neste momento. Vamos manter nossas equipes trabalhando remotamente enquanto não for totalmente seguro trazê-las para o regime híbrido”, garante.

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